sexta-feira, 29 de maio de 2009

Pense nisso


Corações vermelhos,
coração torto picotado
em tachas de madeira,
moldado no barro
pra que cheire terra.
Repartido em quantas metades?
Somente duas?
Ou sementes duma mesma poetisa?
Sempre pensei em números crus
para comportar minhas palavras
ou para limitar meus amores,
mas após tanto contar
encontrei apenas
um número que me conforta,
penso que se amor
fosse número seria isso:
infinito;
por ser palavra profunda
e para que não acabe em mim
ou no número 1
o amor que
senti,
sinto,
sentirei,
sentiremos.
Conjugado o amor
se torna verbo: amar.
Na primeira pessoa
do singular atrofia:
amo.
Na primeira pessoa
do plural cresce:
amamos.
Sendo passado e presente
ao mesmo tempo.
Mas no tempo futuro
tente a crescer ainda mais:
amaremos.
Amaremos o que?
Quem virá no predicado?
As mesmas pessoas
singulares e plurais
de nosso português arcaico?
Será número,
verbo,
pessoa ou
substantivo?
Ou deixará ainda
de ser palavra
pura e simplesmente?
Não poderá ser substância
escorrendo
para além da borda
da página,
da pauta do papel,
da grade da jaula?
Assim sendo
então não há de caber
num músculo do peito
isso que sinto e busco,
mas há de ser tudo
que sinto e toco,
pois agora vejo
em toda vida que julgo
ser diferente
na verdade parte do que sou,
pois somos todos parte
sem se partir.
Por isso sinto o que sentes
mesmo sem nunca
ter pisado os pés em Maputo,
mesmo sem nunca
ter cruzado o Atlântico
rumo as terras africanas,
todavia vivo
um pedaço da África
que desembarcou
na baia de todos os santos,
e mesmo não tendo marcada
em minha epiderme
a cor desta etnia,
danço ao mesmo batuque
do tambor
que meus meus irmãos e irmãs
afro brasileiros,
pois sei que somos um
mesmo sendo infinito.
Pois sou
a Bahia de todos os povos,
o coração de todos os lutadores,
o mundo de toda a vida,
o verso de todos os poetas.

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