domingo, 26 de julho de 2009

AMARGAMIA


Em minha sacada
vive uma margarida,
o quanto é tola.
Pensa ela
que o sol se apaga
ao fim do dia.
Não estará ele
queimando além do horizonte?
Pobre margarida tola,
teme que o beija-flor
vá embora após beijá-la.
Porque se aflige
ao vê-lo pousar em outra flores?

Que pensa margarida?
Guarda teus amores numa vitrine?
Não sente mais seus aromas?
Quantas rugas...

Veja
a margarida
na sacada,
não larga a terra
onde estão presas
suas raízes.


quinta-feira, 9 de julho de 2009

O QUE SOU?

Tudo que existe já é
antes do bem e do mal,
tudo que vejo
levou de mim um pedaço
quando do olho saiu para fora,
tudo que penso, digo ou escrevo
ganhou de mim o crivo da moral
que carrego, prego e escuto.

Tudo que existe já é
antes de ter um nome ou um signo,
o julgamento da essência é incerto,
se aproxima ou se afasta
do que realmente é,
a certeza é a escolha do bom senso.

Tudo que existe só é
por que um dia passou ser,
toda rocha pode tornar-se poeria,
toda poeira pode um dia virar rocha,
sua condição a faz ser o que é.
Tudo que é sólido desmancha,
todo pensamento é infinito,
se não o é, está preso então.

Tudo que é ser está sendo,
sendo que um dia foi ou ainda é,
só continuo sendo o que não quero
se não me ver capaz de ser o que quiser,
posso ser qualquer coisa
se faço o que quero ser.
Há quem diga o que sou
para seja o que querem,
há quem diga o que o é
sendo não faz o que diz ser.

Tudo que é ser também é "são",
na primeira e terceira pessoa
não são boas ou ruins,
são indivíduos e estão
ainda descobrindo de si.
Mesmo sendo e vivendo
contradição,
vou sendo como posso,
o termo de mim só importa
no plano do material,
faço o que quero
da maneira que faço
por que faço da forma
que se concretize
no julgo do que acho correto.

Digo o que é possível
pelo que observo,
e torno possível quando dá
ou quando quero.
Sendo assim sou que o quero,
pois quando quero ser
o faço.

COMO OLHO PARA TRÁS

Quando me cai a nostalgia
inevitável é a lembrança
do que foi,
do que pensei que seria.
Mas de que adianta querer
o que não é?
Como pensar ser nuvem algodão
sendo que um seca
e o outro molha?
Como posso querer
que seja como antes,
que o tempo volte
sendo que este não para?
É irreversível.
Quando penso para trás
não deixo de olhar pra frente
nem penso em viver
tudo de novo,
mas viver o novo.
Vejo o passado
com os olhos do futuro,
vendo onde começa
para saber como prosseguir.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

NA PAREDE DA MEMÓRIA


A força da memória
é um badalo que ensurdece,
por isso abafam seu eco quando é risco,
por isso resiste por quem não esquece.
Eis a parte que me cabe neste latifúndio,
já nem parece que ali uma cidade existiu,
Canudos escondida foi barragem a baixo construída,
aqueles que ocultam memórias o fizeram,
como quem quer esconder de si mesmo
o que prefere não enxergar,
o que prefere que não enxerguem.
Em meio as águas apenas um sinal vida,
a cruz numa torre alta da igreja,
uma cabeça e dois braços,
o bastante para quem sabe
que chegada a seca
ressurgem as casas.