quinta-feira, 10 de novembro de 2011

aMARgamia II



No fim das contas,
não fui menos tolo que você,
ao te acusar de
querer trancafiar sentimentos
em pequenas caixas
no fundo do peito.

Me julguei emancipado.
Ao comparar o amor a flor,
acreditei ser um pássaro,
ave colibri.

Agora já não sei mais,
apesar de saber mais de mim.
Agora sei o quanto supérfluo pode ser
apenas degustar do néctar
sem também consumir a flor inteira,
descobrir mais que sua aparência,
redescobri-la ao passo dos anos.

Hoje,
se fosse comparar o amor com algo tátil,
não escolheria a flor,
elegeria o mar.

Por mais prazeroso que seja
visitar inúmeras praias,
conhecer a beleza peculiar de cada uma,
nada substitui a intensidade
de se mergulhar fundo
no profundo oceano,
e conhecer as maravilhas
escondidas abaixo da superfície
que se apresenta aos olhos precipitados.

Mergulhar, porém, requer tempo.
E talvez uma vida nem seja o bastante...



quinta-feira, 14 de abril de 2011

LEVANTA O PÓ DA ESTRADA

Havia tanto tempo que multidões
não cruzavam o horizonte,
que os anos assentaram
o pó da estrada.

Mas os tempos são outros
e novos ventos
começam a soprar.
É que a vida
não vai nada bem,
está tudo de pernas pro ar.
Os valores
são os piores possíveis.
O sucesso é a ganância
no conforto da filantropia.
Está tudo de pernas pro ar,
e finalmente
o sagrado vira profano.

E a vida
não vai nada bem.
As primeiras caravanas
começam a se mexer,
e o seu
movimento
levanta
a poeira da estrada.
O desespero que se apega
ao primeiro sinal
de esperança.

As pessoas começam
a acreditar em si mesmas,
a confiar na força
que possuem nas mãos,
abandonando antigas direções.
Autonomia,
neste instante,
é sinal de maturidade.

Está chegando a hora
de fazer acontecer.
Me armo
com bandeiras de luta,
palavras de ordem,
e meus poemas de combate,
muito embora me pergunte
até quanto estas armas
serão o bastante.

É momento de incertezas,
mas também de muita
coragem
para buscar as respostas
das grandes questões
do nosso tempo.
O desafio é imenso,
mas não podemos ter medo
do assalto ao céu,
derrubar abaixo o império.
Pois é bem verdade
que nestes tempos
de incerteza
não haverá muito tempo
para sentir medo.