sábado, 30 de maio de 2009

A DIALÉTICA DO SER (a partir do ponto de chegada, mas também um novo ponto de partida)


Enclausurado dentro de mim
misturo minuciosamente minhas memórias,
fora do tempo, fujo das horas,
temendo os pingos de chuva lá de fora.

Temor tem prazo de validade,
temer demais estraga,
puta putrefação exagerada,
enxerga encharcada
a vida feia e cagada.

Sim!
Todo aprendizado
é uma espécie de clausura,
voltar às estranhas impuras,
escuras grutas gruindo
sussurros medrosos do escuro.
Claustrofóbica mente chora,
enclausurada se enxerga melhor
do que de fora.
Pelo avesso arranca
o câncer encarnado na carne
que borbulha efervescente
os gemidos, os gemidos
esquecidos, empilhados,
condensados são mofados
a uma massa crítica,
crise, crise, cresce,
e num estardalhaço
explode o grito.

Poca os poucos pilares
da prisão temporal,
arrota o grotesco
e choca o que é normal.
Expande o espaço denso
extra corporal,
liberando as feras enjauladas
do ser animal.

De tão forte o impulso
sobe em pulso, pulso,
pulsa, pulsa
e decola para fora
da orbita do planeta.
Enxerga sua forma
desgastada e obsoleta,
onde os raios do sol
nem podem alcançar.

De tal forma grande o grito,
desloca tudo em sua volta,
de tal forma cria o vácuo
que faz puxar tudo de volta,
com tal força e intensidade
que recolhe o conteúdo de fora,
tudo que não podia ver
em seu retiro de outrora.

Matéria intensa é sugada,
interno misturado com externo,
tese contra antítese,
o que era antes não é mais o de agora,
carregado e impregnado
do que foi numa outra hora.

Passado o passado arcaico
nasce o novo,
que é nada mais
do que o mais do mesmo.
Mas mesmo assim,
mesmo o mesmo,
não é visto da mesma forma
por muito mais tempo.
Ver o mesmo por um lado diferente
é criar a mesma coisa
por diversas vezes,
e poder enxergar,
cada vez mais,
mais coisas do mesmo,
dando voltas e voltas constantes,
mas nunca no mesmo ponto,
sempre a expandir-se
como um espiral gigante.

Absorção abdominal
como se puxa o fôlego,
aprende tudo o quanto puder,
até que a força visceral do vácuo,
criada pela expansão da
matéria condensada,
vá diminuindo, diminuindo
e de novo forme o câncer,
que vai crescendo, crescendo,
se condensando,
e se tranca mais uma vez,
se enclausura,
toma forma e vira uma nova tese,
a síntese,
até que chegue o ponto
de expandir-se
de novo da clausura.

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