Porra velho!
Por quantas vezes mais
irei inaugurar minha manhã
em meu leito amnésico
olhando para o lado
e percebendo então,
que após juras de jamais,
acordo novamente
com esta rapariga do meu lado.
Ainda fita-me os olhos
com aquele ar de vitória
por ter uma vez mais
me dominado a alma.
Deixo então o recosto
de meu travesseiro,
que mais parece
ser feito de pedra,
e rastejando me dirijo
ao banheiro de minha casa,
abro o espelho
e preparo a escova
para tirar de minha boca
o gosto seco e azedo
daquela sebosa dama,
mas infelizmente é inútil,
por que seu perfume de quinta
parece ter grudado em minha pele,
transpira de dentro de meus poros,
encarnado de tal forma
que nem um banho de sal grosso
traria-me um resultado satisfatório,
como me resta apenas o chuveiro
deixo que sua água quente
derrame sobre meu corpo
para que ao menos
me livre a epiderme
desta fragrância insuportável,
talvez o vapor me dilate os poros
para que saia logo
estes vestígios da noite passada.
Saia! Saia!
Vá embora e escorra pelo ralo,
por que insiste em martelar
minha cabeça
causando-me esta enxaqueca
dos infernos?
Já não basta o golpe
que me deste no estomago?
Infeliz!
Como pude permitir
que se apossasse de meu corpo
desta maneira?
E não olhe para mim
com esta cara,
como se eu tivesse
esquecido o teu nome.
Pois irei agora invocá-lo
para jogaste uma praga.
Excomungo então tu:
rebordosa;
para que seja banida
para todo o sempre
de meu templo sagrado,
deste corpo
que não será mais teu.
Será? Será?
Será possível me livrar
de ti assim?
Tu que sempre me engana
e se aproveita de mim
justamente quando estou
atirado na sarjeta.
Mas quem me jogou lá não foste tu,
agora me lembro...
na verdade foi outra dama,
o cafetão para quem paguei
disse que se chamava gabriela
e que a textura de sua pele
era vistosa como um óleo.
Óleo?
Eu devia ter desconfiado
quando inalei
aquele perfume alcoólico
de canela e cravo,
mas não,
ignorei o fato
e seguimos abraçados
para uma viela qualquer,
onde ainda a compartilhei
com os amigos e amigas
que encontrei saudosos
ao ver que eu estava
em tentadora companhia.
Lá fui ainda apresentado
a outras damas.
Recordo-me de uma loira
dos lábios gelados,
além de uma gorda
com fina silhueta
usando um batom cor de uva,
que manchou meus lábios
após um beijo tinto suave.
Ha. como a carne é fraca!
Ainda me lembro vagamente
de trocar fluidos
com minha querida amiga,
de primeiro nome maria,
que geralmente me faz tão bem,
mas que derruba como um atropelo
quando me encontra já dopado
destas más companhias.
Mesmo ciente eu caio nesta arapuca,
foi um golpe fatal.
Logo estava lá,
eu,
agonizando na calçada
um despejo de mim mesmo
no chão,
e me recordo do momento
em que achei graça
ao ver-me ali naquela poça
usando bigode.
Veja só,
foi justamente nesta hora,
rebordosa,
que apareceste para mim,
somente após ter sido iludido
por suas comparsas,
foi justamente ao teu lado
que voltei caminhando para casa,
onde então nos embrulhamos
nos lençóis verdes de minha cama,
para que finalmente
tu pudesse me consumir de manhã.
Maldição!
Sempre a mesma ladainha!
Pois digo que prefiro
ser consumido por um ácido qualquer
para me fazer fritar
em borbulhas púrpuras,
com meus pomposos camarões
de cor rosa manga.
Prefiro me entregar
a outro colo que não o teu,
contigo não me misturo mais,
prefiro misturar-me
com nervosos elefantes camurçados
entre as folhas e cipós
de uma floresta equatorial
e morder a batata da perna
da nega jurema.
De agora em diante
quero apenas de ti
beijos selados
entre petiscos e gargalhadas,
um bico entre poesias declamadas,
ou um amasso engolado
após uma longa canção
acompanhada de viola e percussão,
somente para que me possa
aliviar a sequidão da garganta,
mas nego ir para a cama
acompanhado de ti,
pois teu gozo me abomina,
não quero mais!
Nossa profunda relação
acaba-se aqui neste instante,
ou isso,
ou um pedaço de meu fígado.
então saia por esta porta
e desapareça,
mas não me culpe
se um dia talvez
eu te chamar novamente
apenas para uma recaída.
Mas que seja rápida e fugaz,
antes que eu me lembre
da ressaca.
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