Hoje decidi escrever
o maior poema de todos os tempos.
Deve ser um poema de amor,
sem dúvida.
Exaltar sentimento tão compartilhado
tocará o coração de todos
que o ouvirem.
Não haveria ninguém no mundo
incapaz de compreendê-lo.
Logo as pessoas perceberão
quanto amor lhes falta,
justamente o que é preciso
para ser feliz.
Tão logo surgem as primeiras linhas,
me dou conta que o amor (verdadeiro)
não basta para tornar grandioso
meu poema.
Lógico!
É preciso dizer o caminho necessário
para alcançar tal felicidade.
O maior poema de todos os tempos
deve transmitir uma mensagem sábia,
que revele ao mundo toda a ignorância,
libertando-o do delírio e da insensatez.
Esta será a grande missão do poema.
Mal havia composto
uma meia dúzia de versos,
me toco que
o maior poema de todos os tempos
deve precaver das dificuldades
da tarefa para a qual convoca.
Isso mesmo!
Meu poema
será uma verdadeira convocatória de luta.
Deve incitar coragem e rebeldia,
chamar todos às ruas
para cantar a linda mensagem do poema.
Ele será lido em todas as praças,
em todos os cantos e confins do mundo,
um verdadeiro hino para a humanidade.
Logo seria aclamado - de fato! - como
o maior poema de todos os tempos.
Mal encerro o último verso,
já me encontro em êxtase.
Desejo mostrar a todos
minha grande obra-prima.
Num gesto irreverente
salto pelo quarto,
declamando o poema em voz alta.
Mas ao passar por cada estrofe,
percorrendo suas linhas
ao tom de cada rima,
não enxergo nele
o menor sinal de amor,
sabedoria
ou revolta,
apenas a pura vaidade.
um final inesperado, admito! (y)
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