quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O MAIOR POEMA DE TODOS OS TEMPOS

Hoje decidi escrever
o maior poema de todos os tempos.
Deve ser um poema de amor,
sem dúvida.
Exaltar sentimento tão compartilhado
tocará o coração de todos
que o ouvirem.
Não haveria ninguém no mundo
incapaz de compreendê-lo.
Logo as pessoas perceberão
quanto amor lhes falta,
justamente o que é preciso
para ser feliz.

Tão logo surgem as primeiras linhas,
me dou conta que o amor (verdadeiro)
não basta para tornar grandioso
meu poema.

Lógico!
É preciso dizer o caminho necessário
para alcançar tal felicidade.
O maior poema de todos os tempos
deve transmitir uma mensagem sábia,
que revele ao mundo toda a ignorância,
libertando-o do delírio e da insensatez.
Esta será a grande missão do poema.

Mal havia composto 
uma meia dúzia de versos,
me toco que
o maior poema de todos os tempos
deve precaver das dificuldades
da tarefa para a qual convoca.

Isso mesmo!
Meu poema 
será uma verdadeira convocatória de luta.
Deve incitar coragem e rebeldia,
chamar todos às ruas
para cantar a linda mensagem do poema.
Ele será lido em todas as praças,
em todos os cantos e confins do mundo,
um verdadeiro hino para a humanidade.
Logo seria aclamado - de fato! - como
o maior poema de todos os tempos.

Mal encerro o último verso,
já me encontro em êxtase.
Desejo mostrar a todos 
minha grande obra-prima.
Num gesto irreverente
salto pelo quarto,
declamando o poema em voz alta.
Mas ao passar por cada estrofe,
percorrendo suas linhas 
ao tom de cada rima,
não enxergo nele
o menor sinal de amor,
sabedoria
ou revolta,
apenas a pura vaidade. 





quarta-feira, 14 de novembro de 2012

POEMA DE LIBERTAÇÃO




Este bolo na voz
vem com um frio na espinha,
gelo que espalha no ventre
como queda no espaço.

Esta comoção se revela
num surto de paixão que me leva,
tão real que posso tocá-la.

Como onda me atravessa
e cada músculo se contrai.
Numa paralisia frenética
deixo que a onda me leve,
com ela leve me corpo vai.

Não é queda solitária,
carrego junto minha sacola.
A mesma gravidade que me atrai,
derruba o peso das costas.

Já não tem mais jeito.
Até que fiquei sem jeito, então...
Cansei da ânsia mesmo.

Achei que seria dureza
me ver entregue a vida solta,
mas - pasmem! - tudo que senti
foi o prazer de me entregar,
pois se entregar, as vezes,
é também se libertar.