No fim das contas,
não fui menos tolo que você,
ao te acusar de
querer trancafiar sentimentos
em pequenas caixas
no fundo do peito.
Me julguei emancipado.
Ao comparar o amor a flor,
acreditei ser um pássaro,
ave colibri.
Agora já não sei mais,
apesar de saber mais de mim.
Agora sei o quanto supérfluo pode ser
apenas degustar do néctar
sem também consumir a flor inteira,
descobrir mais que sua aparência,
redescobri-la ao passo dos anos.
Hoje,
se fosse comparar o amor com algo tátil,
não escolheria a flor,
elegeria o mar.
Por mais prazeroso que seja
visitar inúmeras praias,
conhecer a beleza peculiar de cada uma,
nada substitui a intensidade
de se mergulhar fundo
no profundo oceano,
e conhecer as maravilhas
escondidas abaixo da superfície
que se apresenta aos olhos precipitados.
Mergulhar, porém, requer tempo.
E talvez uma vida nem seja o bastante...